Nos últimos anos, a China tem intensificado suas aquisições globais de recursos naturais, terras, ativos estratégicos e empresas em uma escala sem precedentes. Essa estratégia de expansão econômica internacional, amplamente impulsionada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), levanta preocupações significativas sobre as implicações geopolíticas e econômicas desse fenômeno. Neste artigo, analisamos o crescimento dessas aquisições, os métodos empregados, e os possíveis impactos para o cenário global.
Entre 2010 e 2023, empresas chinesas — muitas vezes respaldadas pelo governo — gastaram mais de US$ 2 trilhões em aquisições de ativos ao redor do mundo. Esse número inclui desde terras agrícolas na África e América Latina até participações majoritárias em empresas de tecnologia e infraestrutura na Europa e Estados Unidos. Apenas em 2023, estima-se que a China tenha investido cerca de US$ 130 bilhões em ativos estrangeiros, o que demonstra a continuidade e o aprofundamento dessa estratégia.
O Novo Colonialismo?
Um dos aspectos mais preocupantes dessa expansão é a aquisição de terras agrícolas em países em desenvolvimento. Desde 2010, a China comprou ou arrendou mais de 12 milhões de hectares de terras em países como Sudão, Zâmbia, e Brasil. A motivação por trás dessas aquisições está na segurança alimentar da China, que busca garantir suprimentos para sua população crescente e, ao mesmo tempo, exercer influência sobre nações estratégicas.
No Brasil, por exemplo, empresas chinesas adquiriram extensas áreas no Centro-Oeste e no Norte, regiões ricas em recursos naturais. Essas aquisições frequentemente envolvem contratos opacos e geram preocupações sobre a soberania nacional e a proteção ambiental, pois muitas dessas áreas são sensíveis do ponto de vista ecológico.
O Papel do Partido Comunista Chinês – PCC
A expansão econômica chinesa é uma extensão direta da política externa do PCC, que vê o controle sobre recursos globais como uma forma de garantir a segurança econômica e militar da China. O “Made in China 2025”, um plano estatal lançado em 2015, visa posicionar a China como líder global em diversas indústrias estratégicas, incluindo tecnologia, biotecnologia e energia renovável. Para alcançar esses objetivos, o governo chinês tem utilizado uma combinação de financiamento estatal, pressão diplomática e, em alguns casos, práticas comerciais agressivas.
Um exemplo emblemático foi a aquisição da Syngenta, uma das maiores empresas de agroquímicos do mundo, pela ChemChina em 2017, por cerca de US$ 43 bilhões. Essa compra, além de reforçar o controle chinês sobre o mercado de insumos agrícolas, também representou uma vitória estratégica para o PCC, ao garantir o acesso a tecnologias essenciais para a segurança alimentar.
O avanço da China no mercado global não ocorre sem resistência. Muitos países têm manifestado preocupação com a crescente influência chinesa sobre seus recursos estratégicos. Nos Estados Unidos, a administração Biden tem revisado e, em alguns casos, bloqueado aquisições de empresas tecnológicas por parte de entidades chinesas, citando preocupações de segurança nacional.
Na Europa, a União Europeia tem aumentado os controles sobre investimentos estrangeiros, especialmente aqueles vindos de países fora do bloco, com uma atenção especial voltada para a China. Essas medidas refletem uma preocupação crescente de que a dependência econômica da China pode se transformar em uma vulnerabilidade estratégica.
Além disso, há críticas de que essas aquisições, em muitos casos, desrespeitam os direitos dos trabalhadores e as leis ambientais dos países-alvo. Relatórios de ONGs internacionais têm documentado práticas de exploração em projetos controlados por empresas chinesas na África e na América Latina, onde comunidades locais muitas vezes são marginalizadas e as promessas de desenvolvimento não se concretizam.
A expansão chinesa na aquisição de recursos globais é uma questão complexa que combina elementos econômicos, políticos e estratégicos. Embora a China defenda suas ações como parte de uma estratégia legítima de desenvolvimento, é inegável que as implicações globais são profundas e preocupantes. O avanço do Partido Comunista Chinês no controle de recursos internacionais deve ser acompanhado de perto por governos, empresas e organizações civis em todo o mundo, a fim de garantir que os princípios de soberania, transparência e justiça social sejam preservados.
O mundo está diante de um novo paradigma de poder, onde a economia global é tanto um campo de batalha quanto um tabuleiro de xadrez para a hegemonia geopolítica. Cabe à comunidade internacional responder de maneira coordenada e eficaz para assegurar um equilíbrio justo e sustentável.
Prof. Wellington Sena
wellington.sena@outlook.com