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G20 no Brasil: Promessas renovadas em um cenário de descrédito

Por Wellington Sena

 

O encontro dos líderes do G20, que se inicia hoje, 18 de novembro de 2024, no Brasil, coloca o país no centro de um debate global sobre questões urgentes. Criado em 1999 como uma resposta às crises financeiras da década de 1990, o G20 reúne as maiores economias do mundo com o objetivo de promover estabilidade econômica e resolver desafios globais. Contudo, críticas persistentes sobre a efetividade de seus encontros apontam para um crescente ceticismo quanto à capacidade do grupo de transformar discursos em ações concretas.

A Criação e os Objetivos do G20

O G20 foi concebido para fortalecer o diálogo entre economias avançadas e emergentes, representando 85% do PIB global e dois terços da população mundial. Embora inicialmente focado em temas econômicos, seu escopo expandiu-se para incluir tópicos como mudanças climáticas, combate à pobreza e desigualdades globais. Porém, muitos observadores argumentam que, ao longo das décadas, o G20 tornou-se um palco para promessas vazias e comunicados de intenções que raramente resultam em ações significativas.

O Brasil, como presidente do grupo, definiu três prioridades que terão as propostas incluídas na declaração final do G20:

1. Combate à Fome e à Pobreza: Aliança Global Anunciada

Durante esta cúpula, o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza promete renovar o compromisso das nações em enfrentar um dos desafios mais antigos da humanidade. Com 735 milhões de pessoas em situação de fome no mundo, a iniciativa surge como um sopro de esperança. No entanto, críticas apontam que anúncios semelhantes em cúpulas anteriores resultaram em fundos insuficientes ou na falta de mecanismos claros para garantir a aplicação dos recursos prometidos. Mais uma vez, a desconfiança recai sobre a real capacidade de implementação das medidas anunciadas.

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza propõe um modelo colaborativo entre governos, organizações internacionais e o setor privado para financiar e implementar ações estratégicas de combate à fome e à desigualdade. Entre as medidas anunciadas estão o fortalecimento de sistemas alimentares sustentáveis, ampliação do acesso a programas sociais e a destinação de fundos a países mais vulneráveis. Além disso, a aliança promete promover o desenvolvimento rural, com foco em pequenos agricultores, responsáveis por cerca de 80% da produção de alimentos nos países em desenvolvimento.

Por mais atrativas que essas propostas possam parecer, críticos destacam a falta de detalhamento sobre como os países membros do G20 irão mobilizar os recursos necessários. Em cúpulas anteriores, compromissos semelhantes esbarraram em questões burocráticas, promessas não cumpridas e falta de fiscalização sobre os fundos alocados.

2. Sustentabilidade e Mudanças Climáticas: Uma Corrida Contra o Tempo

A agenda ambiental do G20 também promete compromissos renovados em prol da sustentabilidade e do enfrentamento às mudanças climáticas. Em um momento crítico para o planeta, com desastres naturais cada vez mais frequentes e severos, a urgência por ações efetivas nunca foi tão evidente. Entretanto, o histórico do G20 na área climática não inspira confiança. Promessas ambiciosas de redução de emissões e investimentos em energia limpa feitas em cúpulas passadas esbarraram em interesses nacionais conflitantes e na falta de vontade política.

3. Reforma da Governança Global: Representatividade ou Retórica?

A reforma da governança global também estará em discussão, com destaque para a representatividade dos países emergentes em organismos como a ONU. O Brasil, que há anos reivindica um assento permanente no Conselho de Segurança, vê na presidência do G20 uma oportunidade de reforçar sua posição. Contudo, especialistas alertam que mudanças significativas são improváveis, dado o histórico de resistência das grandes potências em ceder influência nos fóruns internacionais.

4. Taxação de Grandes Fortunas, Igualdade de Gênero e Fim das Guerras

Outra parte ambiciosa da pauta inclui a taxação de grandes fortunas, a promoção de direitos iguais entre homens e mulheres e a busca por soluções para conflitos armados. Embora essas questões representem avanços desejáveis, elas frequentemente enfrentam barreiras políticas e culturais que dificultam a implementação de políticas globais. Além disso, a falta de consenso entre os membros do G20 sobre questões tributárias e de igualdade sugere que os resultados provavelmente se limitarão a declarações simbólicas.

O Ceticismo Crescente

Enquanto delegações chegam ao Brasil para o encontro, vozes críticas se intensificam. Analistas apontam que o G20 tem se tornado mais um evento midiático do que um fórum de transformação real. A falta de resultados concretos em cúpulas passadas alimenta a percepção de que as reuniões servem mais para projeção de imagem das lideranças do que para a resolução efetiva de problemas globais. O turismo diplomático, frequentemente associado a esses encontros, acaba ofuscando a seriedade das discussões propostas.

Embora a cúpula do G20 no Brasil reúna uma agenda ambiciosa e trate de questões centrais para o futuro do planeta, a desconfiança na capacidade do grupo de entregar resultados concretos permanece alta. O mundo aguarda não apenas promessas e comunicados, mas ações reais e transformadoras. Sem isso, o G20 corre o risco de continuar sendo visto como uma reunião de discursos bem-intencionados, mas incapaz de enfrentar os desafios de um mundo em crise.

Enquanto líderes mundiais desfrutam do cenário tropical brasileiro, milhões de pessoas ao redor do globo continuam aguardando soluções reais para problemas urgentes. A dúvida permanece: será este encontro um marco de mudanças concretas ou mais um capítulo de promessas vazias?