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A nova guerra do Ópio: Como a China se tornou um agente do caos global

Por Wellington Sena

 

A guerra moderna assumiu formas diversas, distantes das trincheiras e dos campos de batalha tradicionais. Enquanto o Ocidente ainda se preocupa com a possibilidade de uma guerra convencional contra a China, uma nova forma de conflito silencioso está em curso: a guerra do fentanil. Segundo Peter Schweizer, no livro Dinheiro Sujo, essa guerra tem causado mais mortes do que as principais guerras americanas do século XX. Trata-se de um conflito sem soldados uniformizados, mas com uma horda de viciados e mortos nas ruas dos Estados Unidos.

No centro dessa tragédia, está um ator aparentemente invisível, mas estrategicamente envolvido: o governo chinês. A exploração dessa crise segue uma lógica típica das antigas táticas de guerra de Sun Tzu, onde o ideal é subjugar o inimigo sem a necessidade de um confronto direto. Pequim não envia soldados, mas toneladas de precursores químicos do fentanil chegam ao México, onde são processados e, então, distribuídos nos Estados Unidos. Essa operação sofisticada tem causado uma epidemia devastadora. Apenas em 2021, cerca de 67 mil americanos morreram devido a overdoses de fentanil, um número maior do que todas as baixas dos EUA nas guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão somadas.

O fentanil é um opioide sintético, cerca de 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais forte que a morfina. Originalmente desenvolvido para uso médico, em especial no tratamento de dores intensas e crônicas, sua versão ilegal tem sido amplamente misturada a outras substâncias, tornando-se uma das principais causas de overdose nos Estados Unidos. Pequenas quantidades podem ser fatais, tornando-o uma ferramenta letal quando utilizada em estratégias de guerra não convencional.

A ironia histórica não passa despercebida. Durante o século XIX, a China foi a grande vítima das Guerras do Ópio, travadas contra a Grã-Bretanha, que forçava o mercado chinês a consumir drogas, resultando em uma sociedade enfraquecida e altamente dependente. Agora, o governo chinês parece estar revertendo esse jogo, promovendo deliberadamente a exportação de opioides sintéticos para o Ocidente. Pequim, segundo Schweizer, busca corroer a sociedade americana e enfraquecer seu potencial econômico e militar a partir do interior.

Mas o envolvimento chinês vai além da produção dos precursores. Redes criminosas chinesas, as famosas Tríades, mantêm uma aliança velada com o Partido Comunista Chinês (PCC). Nos anos 1980, Deng Xiaoping consolidou uma espécie de “paz” com esses grupos, permitindo que operassem livremente desde que seus interesses não entrassem em conflito com os do Estado. Essa relação resultou em uma expansão sem precedentes do contrabando de drogas e na criação de uma rede de lavagem de dinheiro que envolve desde bancos chineses até empresas de fachada nos Estados Unidos.

De acordo com documentos analisados por Schweizer, as Tríades atuam em conluio com cartéis mexicanos, fornecendo não apenas os precursores, mas também conhecimento técnico e equipamentos para a produção em larga escala. A rota mais comum de distribuição começa na China, passa pelo México e cruza a fronteira americana em remessas que escapam da alfândega grácias à corrupção e falhas nos sistemas de rastreamento.

E onde estão os líderes políticos americanos em meio a essa crise? A resposta pode ser ainda mais perturbadora. Schweizer argumenta que muitos desses líderes têm laços financeiros diretos ou indiretos com empresas chinesas ligadas ao governo de Pequim. O fentanil não é apenas uma questão de segurança pública, mas também de interesses econômicos e políticos. Bancos americanos e fundos de investimento continuam a intermediar negócios bilionários com conglomerados chineses que, por sua vez, são peças-chave na cadeia de produção de precursores do fentanil.

Schweizer também aponta a cumplicidade de algumas figuras públicas que evitam discutir a responsabilidade chinesa na crise. Líderes políticos de alto escalão, incluindo um ex-presidente e senadores influentes, têm relações financeiras suspeitas com indivíduos e empresas envolvidas na cadeia de fornecimento do fentanil. Por medo de retaliação econômica ou pela própria conveniência financeira, evitam qualquer confronto com Pequim.

A abordagem chinesa segue o manual de guerra híbrida: não se trata apenas de vender drogas, mas de minar a estrutura social dos EUA por meio da dependência química e do caos associado à epidemia de opioides. Em paralelo, Pequim manipula o fluxo de informações, restringindo o acesso a dados sobre o envolvimento de empresas chinesas no tráfico de drogas e impedindo investigações mais aprofundadas.

Os efeitos dessa guerra silenciosa já são visíveis. Famílias destruídas, jovens mortos por overdoses acidentais, sistemas de saúde sobrecarregados e cidades inteiras assoladas pelo uso abusivo de fentanil. O que Schweizer revela em seu livro é que essa crise não é apenas o resultado da negligência ou da demanda interna por drogas, mas de uma operação sistemática que tem por objetivo desestabilizar os Estados Unidos.

A China, segundo o autor, não está apenas fornecendo a arma do fentanil, mas também garantindo que ela seja usada com eficácia. A guerra moderna, como ensinou Sun Tzu, é vencida antes mesmo de ser declarada. A grande pergunta que fica é: até quando os Estados Unidos continuarão a ignorar esse ataque silencioso?

Fonte de consulta:

Schweizer, Peter. Dinheiro Sujo. Livro que expõe a influência chinesa na crise do fentanil nos Estados Unidos, detalhando a conexão entre o Partido Comunista Chinês, as Tríades e cartéis mexicanos no tráfico de opioides sintéticos. O livro é encontrado na Amazon apenas na versão em idoma inglês: Blood Money: Why the Powerful Turn a Blind Eye While China Kills Americans (English Edition).

Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC). Dados oficiais sobre overdoses nos Estados Unidos, incluindo as 67 mil mortes por fentanil em 2021.

Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (NIDA). Informações técnicas sobre o fentanil e seus impactos na saúde pública.

Significado técnico do termo “fentanil”:

O fentanil é um opioide sintético altamente potente, usado originalmente na medicina para tratar dores intensas, como em casos de câncer avançado e cirurgias. Ele é cerca de 50 vezes mais forte que a heroína e 100 vezes mais potente que a morfina. Pequenas doses já podem ser fatais, o que o torna extremamente perigoso quando misturado ilegalmente a outras substâncias.

Na versão ilícita, o fentanil é frequentemente fabricado de forma clandestina e misturado a drogas como heroína, cocaína e metanfetamina, aumentando drasticamente os riscos de overdose. Seu efeito é rápido e intenso, podendo causar depressão respiratória severa e morte em poucos minutos sem intervenção médica imediata.