João Trindade – Advogado
A política é, sem dúvida, um fator preponderante no desporto. Não é à toa – e não por altruísmo – que os governos investem no desporto; sobretudo, no futebol, aquele é uma ferramenta de demonstração de força do governo, principalmente nos regimes autoritários e populistas.
Abordaremos, aqui, alguns exemplos, em nível nacional.
Das modalidades desportivas, o futebol é um elemento marcante na trajetória política brasileira, tendo sido em diversos momentos, usado como ferramenta por governantes que aproveitaram o apelo popular deste esporte, como meio de manipulação e condução das massas.
Desde que o esporte se modernizou e se transformou em espetáculo de massa, foi colocada em pauta a possibilidade de ser usado como forma de agregar e unir a população em torno de um líder carismático e do ideal nacionalista.
Nessa vertente, é possível citar a Copa do Mundo de 1938, sediada na França, que alicerçou o futebol como o principal esporte brasileiro, com o incentivo do Estado Novo, que não hesitou em utilizar o futebol como forma de agregar e unificar as massas e impeliu a população à mobilização em torno da seleção brasileira, alcançando o fortalecimento do sentimento nacionalista, por meio da conquista de bons resultados.
Em 1958, quando a seleção brasileira de futebol conquistou a Copa do Mundo, o Presidente Juscelino Kubitschek associou essa conquista ao governo dele. O Jornal do Brasil de 1º julho de 1958 estampou na manchete: “É o Brasil novo que começa a conquistar suas vitórias, é o Brasil de Brasília que, plantado no coração da Pátria, tem agora um espírito novo a dirigir-lhe os destinos”, explorando a euforia do momento desportivo como uma oportunidade de se popularizar politicamente.
A conquista da Copa do Mundo de 1970 é o mais conhecido e mais descarado exemplo de uso do futebol e manipulação das massas, com frases ufanistas, músicas, idem e premiação exagerada aos jogadores, com o ditador Emílio Garrastazu Médici fazendo questão de posar de desportista, enquanto “o pau comia” nos porões da ditadura e o povo, embasbacado, nem percebia. Ficaram famosos os slogans como “Ninguém segura este país” ou “Brasil, ame-o ou deixei-o”, afora a exaustiva execução da música “Pra Frente Brasil”, encomendada, adrede, ao compositor Miguel Gustavo. Slogans e música tiveram bastante impacto na época.
Futebol e política se misturam. E essa não é uma simbiose salutar.