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A Ilusão Fantasiada

Por Wellington Sena

 

Em meio ao calor escaldante que recentemente atingiu recordes de temperatura em diversas capitais, o Brasil se prepara para mais um Carnaval. A festa, que promete movimentar mais de R$ 12 bilhões na economia nacional, surge como um alívio temporário diante das adversidades que assolam o país.

A inflação, projetada para fechar em 4,8% em 2025, corrói o poder de compra dos brasileiros. Produtos básicos, como o café, registraram aumentos significativos, com o preço de um quilo chegando a R$ 56,00. Além disso, a desvalorização do real, que atingiu uma cotação recorde de 6,18 reais por dólar, encarece ainda mais os produtos importados e impacta diretamente no custo de vida.

O governo federal, em uma tentativa de equilibrar as contas públicas, anunciou cortes orçamentários que afetam áreas sensíveis como saúde e educação. Paralelamente, emendas parlamentares de aplicação questionável continuam a ser liberadas, levantando dúvidas sobre a eficiência e a moralidade na gestão dos recursos públicos.

A violência urbana permanece uma preocupação constante. As dificuldades econômicas e o aumento do desemprego contribuem para o crescimento da criminalidade nas grandes cidades. Enquanto isso, a população busca refúgio na folia, utilizando o Carnaval como uma válvula de escape para os problemas cotidianos.

Historicamente, o brasileiro se apega ao ditado de que “o ano só começa após o Carnaval”. Essa mentalidade reflete uma esperança coletiva de que, após os dias de festa, o país encontrará um caminho mais próspero e justo. Entretanto, a realidade pós-Carnaval muitas vezes traz de volta os mesmos desafios estruturais, adiando soluções efetivas.

O setor de turismo e entretenimento, embora impulsionado pela festividade, enfrenta desafios. Eventos como o recente incêndio em uma fábrica de fantasias no Rio de Janeiro, que deixou vários feridos, evidenciam a precariedade e a falta de investimentos adequados em infraestrutura.

A desvalorização contínua do real, que perdeu mais de 20% de seu valor em 2024, aumenta a pressão sobre os preços internos e dificulta a recuperação econômica. Investidores demonstram ceticismo em relação às medidas fiscais adotadas, questionando a sustentabilidade das contas públicas a longo prazo.

Nesse cenário, o Carnaval funciona como uma espécie de “ilusão fantasiada”, onde, por alguns dias, a população se permite esquecer das adversidades. No entanto, é crucial que, passada a euforia, haja um esforço coletivo — tanto da sociedade quanto dos governantes — para enfrentar os problemas de frente, buscando soluções que promovam um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

O brasileiro punpula, bebe e se diverte como se não houvesse amanhã. Todos temos o direito natural de se divertir, ainda mais quando se trata de uma nação festiva como é a nossa. O brasileiro sem carnaval seria como retirar o balão de oxigênio do paciente na UTI: definharia em pouco tempo. O carnaval, portanto, é um dos ópios da população.

A esperança por um país mais justo e próspero não pode se restringir aos dias de folia. É necessário que o espírito de união, disposição e criatividade, tão presente no Carnaval, se estenda ao longo do ano, inspirando ações concretas que transformem a realidade brasileira.

Portanto, que a energia contagiante do Carnaval sirva de combustível para que, juntos, possamos construir um Brasil onde a justiça social e a prosperidade sejam mais do que uma fantasia passageira, mas uma realidade duradoura.