Como escreveu um dos maiores historiadores de todos os tempos, Ibn Khaldun, na sua obra histórica inigualável O Muqaddimah do Século XIV:
“Deus criou e moldou o homem numa forma que só pode viver e subsistir com a ajuda da comida; Através da cooperação, as necessidades de um número de pessoas, muitas vezes superior ao seu próprio número, podem ser satisfeitas.”
À medida que esta infraestrutura Mundial emerge, aumenta a percentagem da nossa dependência total da capacidade remota de produção alimentar em relação à capacidade de produção em massa e aos meios de transporte de enormes empresas que operam sob a orientação política global, de organizações como a Amazon (empresa multinacional de tecnologia norte-americana com sede em Seattle, Washington. A companhia se concentra no e-commerce, computação em nuvem, streaming e inteligência artificial. É considerada uma das cinco grandes empresas de tecnologia, juntamente com Google, Apple, Microsoft e Meta) e a comunidade bancária internacional. Como indivíduos, poucos de nós teriam alguma ideia de onde conseguir um pedaço de pão ou um metro de tecido, a não ser em algum supermercado ou loja de departamentos; e todos dependemos de alguma forma de transporte eficiente, energia elétrica, gasolina na bomba e capacidade e versatilidade de produção ilimitadas. Deixe esse sistema entrar em colapso, a qualquer momento, e todos nós ficaremos indefesos. Um sistema cooperativo e funcional é essencial para a sobrevivência; no entanto, no geral, é um sistema sem liderança e orientação.
Atualmente, em muitos países, a agricultura familiar tradicional e mesmo as explorações agrícolas e industriais comunitárias praticamente desapareceram de cena. Isto criou, pelo menos no que chamamos de nações desenvolvidas, uma escassez de agricultores e de pessoas que tenham essa experiência básica juntamente com a necessidade nas indústrias alimentares e de produtos domésticos. Além disso, à medida que esta tendência se amplia, o transporte de produtos agrícolas tem sido cada vez mais atribuído à indústria de transporte rodoviário, que tem os seus limites terrestres…, principalmente quando aplicado aos limites de tonelagem e à disponibilidade econômica de petróleo.
Como resultado, algo tão simples como uma greve na indústria de transportes rodoviários que mantenham os caminhões fora de qualquer cidade durante setenta e duas horas ou mais, levará à fome e a tumultos alimentares generalizados. Em 2017, sentimos na pele com a paralização dos caminhoneiros em todo o Brasil, causando um caos generalizado e explosão dos preços de combustíveis. A escassez trouxe à tona, de certa forma, a brutalidade e arrogância disseminada em todas as classes sociais.
Nenhum de nós sabe onde conseguir comida se não for no supermercado mais próximo; e se tivermos um abastecimento de alimentos armazenado e trancado na adega, seremos simplesmente alvo daqueles que não o têm. O alimento, nas suas variadas formas, é a força motriz final. Sob tais condições previsíveis, haverá ondas de matança e, eventualmente, de canibalismo. O homem deve comer; e a única forma de obter alimentos adequados é através da cooperação e dos meios para transportar, distribuir alimentos e outras necessidades básicas. Este papel essencial está cada vez menor para além da fronteira. A falta de abastecimento alimentar já resultou numa forma de genocídio encoberto em muitos países. Outras carências de produtos essenciais seguem-se inevitavelmente.
Custo de produção e transporte. E, no Brasil, o que eleva o preço do alimento sem dúvida é o transporte rodoviário, triplicando por assim dizer o custo inicial de produção. Outros meios, portanto, devem ser explorados para que o alimento chegue ao consumidor final de forma menos dispendiosa. Hoje, mais do que nunca, somos dependentes dessa dessa cadeia produtiva. Como disse Rudyard Kipling: “Transporte é Civilização”. O oposto é igualmente verdadeiro: “Sem transportes confiáveis, ficamos reduzidos ao estado de barbárie”.
Prof. Wellington Sena